terça-feira, 14 de julho de 2020

São Boaventura, o Doutor Seráfico


   Dentre os filhos de São Francisco, um nome que não pode passar despercebido é o de São Boaventura, que, com seu trabalho espiritual e teológico, ajudou Santo Tomás de Aquino, herdeiro de São Domingos, a defender e ensinar a verdade católica em sua época.

São Boaventura nasceu em Bagnoregio, na província italiana de Viterbo, no ano de 1217. Pouco se sabe sobre sua infância, a não ser o episódio marcante que teria influenciado a escolha de seu nome religioso. Tendo caído numa forte doença, sua mãe pediu a intercessão de São Francisco, há pouco canonizado, para que o salvasse. Foi haurindo do santo a "boa ventura" que começou a simpatia do até então João Fidanza pelo impressionante testemunho do Poverello, como conta o Papa Bento XVI:

"A figura do Pobrezinho de Assis tornou-se-lhe ainda mais familiar alguns anos mais tarde, quando se encontrava em Paris, aonde tinha ido para estudar. Obtivera o diploma de Mestre de Artes, que poderíamos comparar com o de um Liceu prestigioso dos nossos tempos. Nesta altura, como muitos jovens de ontem e também de hoje, João formulou uma pergunta crucial: 'O que devo fazer da minha vida?'" [1]

São Boaventura, por sua vez, entendeu cedo que a verdadeira vida não é aquela dedicada à obtenção de um diploma, à conquista de uma namorada "bonitinha" ou à persecução de um cargo importante. A vida não pode ser decidida por escolhas apenas temporais. Neste sentido, o filho de São Francisco decidiu-se pelo cumprimento fiel de sua vocação à santidade, abraçando a cruz que teria de carregar até o dia da redenção e tomando, em 1243, o hábito franciscano: "Confesso diante de Deus que a razão que me fez amar mais a vida do Beato Francisco é que ela se assemelha aos inícios e ao crescimento da Igreja. A Igreja começou com simples pescadores e em seguida enriqueceu-se de doutores muito ilustres e sábios" [2]. Trata-se de um exemplo valioso para a geração atual, que, infelizmente, quase não entende mais o valor do sacrifício e das escolhas definitivas.

Terminados os estudos na Universidade de Paris, São Boaventura ganhou uma cátedra na mesma instituição para ensinar teologia, ofício que cumpriu com heroica dedicação, apesar das dificuldades. Havia, naquela época, uma antipatia dos padres seculares pelas ordens mendicantes, de modo que muito se contestou a presença de seus membros dentro do ambiente acadêmico. Questionava-se quase tudo: o seu estilo de vida, a fidelidade à doutrina e até a própria vocação deles. Para responder aos críticos e defender os seus, Boaventura redigiu um texto exemplar que, dada a sua profundidade, ainda hoje pode ser lido com proveito por todos os cristãos. No livro A perfeição evangélica, o santo mostra que a Igreja é mais bela e luminosa quando seus filhos e filhas são fiéis à vocação para a qual Deus os chamou e, vivendo-a exemplarmente, tornam-se "testemunho de que o Evangelho é nascente de alegria e de perfeição" [3].

A missão de São Boaventura, porém, não se resumiu aos debates teológicos da academia. Logo teve de assumir também o governo dos franciscanos, o que o obrigou a afastar-se definitivamente da universidade para que pudesse entregar-se aos cuidados da fundação de seu pai espiritual. Tal foi a sua dedicação que alguns chegam a atribuir-lhe o título de segundo fundador dos Frades Menores.

Quando São Boaventura tornou-se ministro-geral da Ordem, os franciscanos viviam uma tensão por causa da influência de um frade cisterciense chamado Joaquim de Fiore. Morto em 1202, este frade defendia uma teologia da história que se dividia trinitariamente. Haveria, nesse sentido, uma época do Pai (o Antigo Testamento), uma época do Filho (o Novo Testamento) e uma época do Espírito, consolidada pelo fim das instituições e pelo surgimento de "uma comunidade carismática de homens livres guiados interiormente pelo Espírito" [4]. A corrente dos chamados "franciscanos espirituais" acreditava ser São Francisco o fundador dessa "comunidade carismática". Vendo o risco de que a mensagem do Poverello degenerasse em anarquia, São Boaventura apressou-se em estudar os escritos de Joaquim de Fiore e toda a documentação possível acerca de São Francisco de Assis.

Apesar de exaustivo e, muitas vezes, constrangedor, o trabalho de São Boaventura para purificar sua Ordem rendeu uma obra teológica inigualável, a começar pela sua biografia de São Francisco, em que demonstra toda a fidelidade dele à mensagem de Cristo e da Igreja. São Francisco não foi um hippie amante de Gaia, como sugerem algumas malfadadas interpretações, mas um "alter Christus, um homem que procurou Cristo apaixonadamente, que se conformou totalmente a Ele". Com isso, Boaventura provou que "a Ordem franciscana (...) pertence à Igreja de Jesus Cristo, à Igreja Apostólica, e não pode construir-se num espiritualismo utópico". Ao contrário, a sua missão é a de "estar presente em toda a parte para anunciar o Evangelho" — essa é a verdadeira novidade em relação ao monaquismo comum que, "a favor de uma nova flexibilidade, restituiu à Igreja o dinamismo missionário" [5].

Vale ainda um comentário breve sobre a visão espiritual de São Boaventura acerca do relacionamento de Deus com o homem. Com uma linguagem semelhante à que Santa Teresa d'Ávila usaria alguns séculos mais tarde, São Boaventura fala de um "itinerário", uma peregrinação que todos devem percorrer até chegarem ao fim definitivo que é Deus. Nesta peregrinação, haveria nove graus ou estágios de perfeição — assim como nove são as ordens angélicas —, que, com a graça de Deus, o homem iria galgando pouco a pouco. Para São Boaventura, os santos mais generosos, como São Francisco de Assis, pertenceriam à ordem seráfica, na qual o homem se converte em "puro fogo de amor".

Boaventura, porém, não deixa de lembrar que a santidade é dom de Deus e que, portanto, ninguém pode alcançá-la somente com forças humanas. Ela é sobretudo fruto da comunhão com o amor divino, comunhão que se desenvolve na oração. O que se pode tirar da teologia de São Boaventura é uma firme confiança no amor de Deus, no amor que se manifesta precisamente naquela noite escura da razão, "onde a razão já não vê", mas o amor: "Se agora desejas saber como isto acontece (ou seja, a escalada para Deus), interroga a graça, não a doutrina; o desejo, não o intelecto; não a luz, mas o fogo, que tudo inflama e transporta em Deus" [6].

Antes de partir para a casa do Pai, onde teria o encontro definitivo com esse amor de que tanto falava, São Boaventura prestou um último serviço à Igreja aqui na terra, participando do II Concílio Ecumênico de Lião. Morreu em 1274 como bispo e cardeal. Os testemunhos de sua época diziam que Deus lhe havia concedido tal graça "que todos aqueles que o viam permaneciam imbuídos de um amor que o coração não podia ocultar" [7]. De fato, Boaventura entrou na pátria celeste para, como gostava de repetir, entrar na alegria de Deus. E assim encontrou a vida eterna que havia arduamente buscado e preparado já aqui nesta nossa pousada. Hoje somos favorecidos pela sua intercessão.

Oxalá todos os jovens sigam o exemplo de São Boaventura e façam de suas vidas um itinerário seguro para a casa do Pai, onde há muitas moradas (cf. Jo 14, 2).

São Boaventura de Bagnoregio,
rogai por nós!

Referências

  1. Papa Bento XVI, Audiência Geral (3 de março de 2010).
  2. São Boaventura, Epistula de tribus quaestionibus ad magistrum innominatum, in: Opere di San Bonaventura. Introduzione generale, Roma, 1990, p. 29.
  3. Papa Bento XVI, Audiência Geral (3 de março de 2010).
  4. Id., Audiência Geral (10 de março de 2010).
  5. Papa Bento XVI, Audiência Geral (3 de março de 2010). 
  6. São Boaventura, Itinerário da mente a Deus, VII, 6.
  7. J. G. Bougerol, Bonaventura, in: A. Vauchez (org.), Storia dei Santi e della Santità Cristiana, vol. 6. "L'epoca del rinnovamento evangelico". Milão, 1991, p. 91.
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terça-feira, 19 de maio de 2020

Apresentação de alguns dos nossos trabalhos

Em torno desses 4 anos de experiência desenvolvemos alguns trabalhos pelos lugares onde passamos, tendo sempre em vista a maior glória de Deus, nossa santificação pessoal e a salvação das almas, como disse São Francisco: "Sabei, irmãos, que o bem das almas é muito mais agradável a Deus."(1) 
Aqui estão algumas fotos dos trabalhos:

Corpus Christi 2018

Fizemos com a ajuda de alguns paroquianos a confecção dos tradicionais tapetes para a procissão de Corpus Christi e também do altar onde o Bispo deu a benção com o Santíssimo Sacramento. 









Ordenação do monge beneditino Dom Maria Gregório OSB

Organizamos a liturgia para a Ordenação Sacerdotal do nosso amigo Padre Gregório, com todo o zelo que a dignidade sacerdotal merece.




Nós e Dom Maria Gregório OSB em visita ao Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro.
Nós e Dom Maria Gregório OSB
 em visita ao Mosteiro de São Bento no Rio de Janeiro.

Troca de Hábito

No dia 17 de setembro de 2018, festa da Impressão das chagas de São Francisco, Dom Gregório com permissão do Senhor Bispo realizou a nossa troca de hábito, deixamos de usar o hábito cinza para adotar o marrom, visando nossa maior identidade.



Festa de Nossa Senhora da Conceição Aparecida 2018





Aulas de Catecismo e Religião

Além das aulas de catecismo ministradas na paróquia, ensinamos também na escola que pertence a paróquia.







(1) - Vida de São Francisco de Assis, Tomás de Celano.




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sexta-feira, 4 de outubro de 2019

Solenidade de Nosso Pai São Francisco






Francisco, nascido em Assis, na Úmbria, seguindo o exemplo de seu pai, desde jovem, começou a negociar. Um dia, quando um homem pobre pediu-lhe esmolas por amor de Cristo, ele logo recusa, mas imediatamente aborrecido por essa recusa, ele então lhe dá uma grande esmola; e, a partir daquele dia, prometeu a Deus que nunca negaria esmolas a quem pedisse. Algum tempo depois, ficou gravemente doente e, assim que se recuperou, dedicou-se com mais fervor ao ofício da caridade; e neste exercício fez um grande progresso, e desejando a perfeição evangélica, distribuiu aos pobres o que tinha. O pai sofrendo muito com isso, levou-o ao bispo de Assis, para que renunciasse aos bens; e ele, despido de suas vestes, renunciou a tudo do pai, teria então um motivo a mais para repetir: Pai nosso que estais no céu.

Tendo ouvido essas palavras do Evangelho: "Não tenhais ouro, nem prata, nem moedas em suas bolsas, nem um alforje, nem duas vestes, nem sapatos" (Mt 10, 9); e pega esta passagem como sua regra de vida. Por isso, tirando os sapatos e contentando-se com uma única túnica, juntou-se a doze companheiros, funda a ordem dos Menores. Em seguida no ano de 1209, foi a Roma, para que a Santa Sé pudesse confirmar a regra de sua ordem. A princípio, o papa Inocêncio III rejeitou seu pedido; mas depois de ter visto em sonho aquele que recusara apoiar, segurando a vacilante basílica de Latrão com os ombros, procurou-o, acolheu-o com bondade e confirmou sua regra. Assim, Francisco enviou seus frades para pregar o Evangelho de Cristo em todas as partes do mundo, e ele mesmo que aspirava a uma ocasião de ser martirizado, navegou na Síria; onde ele foi recebido pelo sultão com todo respeito, mas não alcançando a meta, ele retornou à Itália.

Depois de construir muitas casas de seu instituto, ele se retirou para a solidão na montanha de Alverne; onde empreendeu um jejum de quarenta dias em homenagem a São Miguel Arcanjo, na festa da Exaltação da Santa Cruz, um serafim apareceu para ele com a imagem do crucifixo em suas asas; o qual imprimiu os estigmas nas sua mãos, pés e no lado. Tais testemunhos do imenso amor de Cristo por ele despertaram grandemente a admiração de todos. Dois anos depois, sentindo-se gravemente doente, ele queria ser levado à igreja de Santa Maria dos Anjos, a fim de dar o último suspiro da vida. Nesse lugar exortou os frades a observar a pobreza, a paciência e a fé da Santa Igreja Romana, enquanto recitavam o Salmo: "Com minha voz eu clamo ao Senhor" (Sl. 141,2) ao versículo: "Os justos vão me rodear quando me mostrares tua bondade" (Sl 141,8), a sua alma expirou no dia 4 de outubro. Ilustrado por inúmeros milagres, o supremo pontífice Gregório IX o inscreveu no catálogo dos santos.

Fundador das três Ordens
Ex Missale Seraphico.
Paramentis Albis. Duplex Iae classis cum octava

INTROITUS

Gaudeamus omnes in Domino, diem festum celebrantes sub honore beati Francisci; de cujus solemnitate gaudent Angeli et collaudant Filium Dei. ~~ Ps 32:2.- Exultate justi in Domino, rectos decet collaudatio. ~~ Glória ~~ Gaudeamus omnes in Domino, diem festum celebrantes sub honore beati Francisci; de cujus solemnitate gaudent Angeli et collaudant Filium Dei.

Regozijemo-nos todos no Senhor, celebrando este dia festivo em honra do bem-aventurado Francisco, de cuja solenidade os Anjos se regozijam e louvam o Filho de Deus. ~~ Ps 32:2.- Exultai, ó Justos, no Senhor; aos retos, convém o louvor. ~~ Gloria ~~ Regozijemo-nos todos no Senhor, celebrando este dia festivo em honra do bem-aventurado Francisco, de cuja solenidade os Anjos se regozijam e louvam o Filho de Deus.

Gloria

ORATIO

Orémus.

Deus, qui Ecclésiam tuam, beáti Patris nostri Francisci méritis foetu novæ prolis amplíficas: tríbue nobis; ex ejus imitatióne, terréna despícere et coeléstium donórum semper participatióne gaudére. Per Dominum nostrum Jesum Christum, Filium tuum: qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum. Amen.

Oremos.

Deus, que pelos méritos de nosso Pai São Francisco, dilatastes a vossa Igreja com a criação dum nova família: concedei-nos, à sua imitação, desprezar as coisa terrenas e gozar sempre da participação dos bens celestes. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, que convosco vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém.

LECTIO

Léctio Epístolæ beáti Pauli Apóstoli ad Gálatas.

Gal 6:14-18.

Fratres: Mihi autem absit gloriári, nisi in Cruce Dómini nostri Jesu Christi: per quem mihi mundus crucifíxus est, et ego mundo. In Christo enim Jesu neque circumcísio áliquid valet neque præpútium, sed nova creatúra. Et quicúmque hanc régulam secúti fúerint, pax super illos et misericórdia, et super Israël Dei. De cetero nemo mihi moléstus sit: ego enim stígmata Dómini Jesu in córpore meo porto. Grátia Dómini nostri Jesu Christi cum spíritu vestro, fratres. Amen.

Irmãos: de mim esteja longe gloriar-me, a não ser na cruz de nosso Senhor Jesus Cristo, por quem o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão vale alguma coisa nem a incircuncisão, mas a nova criatura. E todos aqueles que seguirem esta regra, paz e misericórdia sobre eles e sobre Israel de Deus. Quanto ao mais, ninguém me seja molesto, porque eu trago no meu corpo, os estigmas do Senhor Jesus. A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja com o vosso espírito, irmãos. Amém.

GRADUALE

Eccli. 50, 6-7

Quasi stella matutina in medio nebulae, et quasi luna plena in diebus suis lucet.

V. Et quasi sol refulgens, sic ille effusi in templo Dei.

Refulge como a estrela da manhã no meio da névoa e como a lua cheia nos seus dias.

V. E, como o sol refulgente, assim ele refulge no templo de Deus.

ALLELUIA

Allelúja, allelúja.

O Patriarca pauperum, Francisce, tuis precibus auge tuorum numerum in caritate Christi: quos cancellatis minibus caecutiens, ut moriens Jacob, benedixisti. (Alleuia).

Aleluia, aleluia.

Francisco, Patriarca dos pobres: aumentai, por vossas preces, o número dos vossos, na caridade de Cristo; os quais Vós abençoastes, de mãos cruzadas, e quase cego, como Jacó moribundo. (Aleuia).

SEQUENTIA

Sanctitatis nova signa
Prodiderunt laude digna
Mira valde, et benigna
In Francisco credita.

Eis os novos sinais da santidade,
Que se revelam, dignos de louvor!
Miríficos sinais de benquerer

Regulatis novi gregis
Jura dantur novae legis
Renovantur jussa Regis
Per Franciscum tradita.

Aos regrantes da nova, humilde grei,
Outorga-se o direito da nova lei.
Os preceitos do Rei são renovados;
Transmitidos do céu por São Francisco.

Novus ordo, nova vita
Mundo surgit inaudita;
Restauravit lex sancita
Statum evangelicum.

Nova vida! Ordem nova que alvorece!
-Uma regra inaudita neste mundo!-
Lei sagrada, que vem a restaurar
O estado do Evangelho sacrossanto.

Legi Christi paris formae
Reformatur jus conforme;
Tenet ritus datae normae
Culmen apostolicum.

Reforma-se a aspereza do direito
Por feição semelhante à lei de Cristo.
E as normas dessa regra se alevantam
Ao fastígio primeiro dos Apóstolos!

Chorda rudis, vestis dura
Cingit, tegit sine cura,
Panis datur in mensura,
Calceus abjicitur.

Ele veste um burel, sem pretensões;
Uma corda grosseira, por cintura.
O pão, só por medida se permite;
E nega-se o conforto do calçado.

Paupertatem tantum quadri,
De terrenis nihil gerit,
Hic Franciscus cuncta terit,
Loculus despicitur.

Descuida-se de tudo que é terreno; 
De tudo, São Francisco se despoja.
Despreza as previdências do pecúlio;
A pobreza deseja, tão somente.

Quaerit loca lacrimarum,
Promit voces cor amarum,
Gemit moestus tempus carum
Perditum in seaculo.

Procura a solidão para chorar;
De coração amargo, solta vozes.
Triste, lastima o tempo tão querido,
Desperdiçado, outrora, lá no século.

Montis antro sequestratus
Plorat, orat humi stratus,
Tandem mente serenatus
Latitat ergastulo.

Retirado, num antro da montanha,
No chão prostrado, humilde, reza e chora!
Por fim, com seu espírito sereno,
Detém-se como preso em doce prisão!

Ibi vacat rupe tectus,
Ad divina sursum vectus,
Spernit ima judex rectus,
Elegit caelestia.

A coberto, somente dos rochedos,
Medita arrebatado nas alturas...
Reto juiz, despreza o que é mundano,
E prefere-lhe as coisas lá do céu.

Carnem frenat sub censura
Transformatam in figura,
Cibum capit de Scriptura,
Abigit terrestria.

Na mortificação, refreia a carne,
Cujo aspecto transforma e desfigura.
A Escritura Sagrada é seu sustento.
De tudo o que é terreno se desfaz.

Tunc ab alto vir Hierarcha
Venit ecce Rex monarcha,
Pavet iste patriarcha
Visione territus.

Um certo dia, vem, lá das alturas,
Hierática figura de Varão!
-Visão do soberano e grande Rei,
Que ao santo Patriarca aterroriza!

Defert ille signa Christi,
Cicatrices confert isti,
Dum miratur corde tristi
Passionem tacitus.

Traz em si, os sinais do bom Jesus!
E impreme-lhe essas chagas sacrossantas,
Enquanto ele medita na Paixão,
Com seu coração triste, emudecido...

Sacrum corpus consignatur,
Manu, pede vulneratur,
Dextrum latum perforatur,
Cruentatur sanguine.

Assinalado fica o bento corpo...
Ferido nos seus pés e suas mãos!
O seu lado direito trespassado...
E assim, todo escorrendo o próprio sangue!



Verba miscent arcanorum
Multa clarent futurorum,
Videt Sanctus vim dictorum
Mystico spiramine.

Palavras se entrelaçam de mistério;
E coisas se revelam, do futuro.
O Santo compreende o que lhe é dito,
Por mística e sagrada inspiração.

Patent statim miri clavi
Foris nigri, intus flavi,
Pungit dolor poena gravi,
Cruciant aculei.

Logo aparecem cravos admiráveis!
Por fora, negros; dentro, cor de rosa.
Dor pungente que fere, em duras penas!
Atrozes aguilhões que supliciam...

Cessat artis armatura
In membrorum apertura,
Non impressit hos natura,
Non tortura malei.

Não entrou instrumento de arte alguma.
Para as chagas abrir naqueles membros.
Não foi a natureza que os feriu,
Nem tão pouco o martelo torturante.

Signis crucis, quae portasti,
Per quae mundum triumphasti,
Carnem hostem superasti
Inclyta victoria.

-Pelos sinais de cruz que em Ti trouxeste,
Com os quais, triunfaste deste mundo
E superaste a carne tão hostil
Em ilustre, em tão ínclita vitória:



Nos, Francisce, tueamur,
In adversis protegamur,
Ut mercede perfruamur
In caelesti gloria.

Desvela-te por nós, Pai São Francisco!
Protege-nos, em toda a adversidade;
A fim de que possamos ir gozar,
Lá na glória celeste, a recompensa.

Pater pie, Pater sancte,
Ples devota, te juvante,
Turba fratrum comitante,
Mereatur pramia.

Nosso bondoso Pai, nosso Pai santo!
Por tua ajuda, o povo teu devoto,
Unido com a turba dos Irmãos,
Todos, o céu mereçam ter em prêmio.

Fac consortes supernorum,
Quos informas vita morum,
Consequatur grex Minorum
Sempiterna gaudia.
Amen. Allelúja.

Oh! Faze companheiros dos Eleitos
Estes a quem inspira em virtude.
Consiga o teu rebanho dos Menores
O gozo sempiterno, lá nos céus.
Amém. Aleluia.

EVANGELIUM

Sequéntia  sancti Evangélii secúndum Matthaeum.

Matt 11:25-30

In illo témpore: Respóndens Jesus, dixit: Confíteor tibi, Pater, Dómine coeli et terræ, quia abscondísti hæc a sapiéntibus et prudéntibus, et revelásti ea párvulis. Ita, Pater: quóniam sic fuit plácitum ante te. Omnia mihi trádita sunt a Patre meo. Et nemo novit Fílium nisi Pater: neque Patrem quis novit nisi Fílius, et cui volúerit Fílius reveláre. Veníte ad me, omnes, qui laborátis et oneráti estis, et ego refíciam vos. Tóllite jugum meum super vos, et díscite a me, quia mitis sum et húmilis corde: et inveniétis réquiem animábus vestris. Jugum enim meum suave est et onus meum leve.

Naquele tempo, tomando Jesus a palavra, disse: Confesso-te, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e prudentes e as revelaste aos pequeninos; sim, Pai porque assim te aprove. Todas as coisas me foram entregues por meu Pai. E ninguém conhece o Filho, senão o Pai; nem ao Pai alguém conhece, senão o Filho e a quem o Filho quiser revelar. Vinde a mim, todos os que sofreis e estais sobrecarregados e  eu vos confortarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis repouso para as vossas almas. Porque o meu julgo é suave e a minha carga é leve.

Credo

OFFERTORIUM

Phil. 1, 20-21

Magnificabitur Christus in corpore meo, sive per vitam, sive per mortem. Mihi enim vivere Christus est, et mori lucrum.

Será Cristo glorificado no meu corpo, quer pela vida quer pela morte; pois, para mim, Cristo é viver; e morrer é um lucro.

SECRETA

Múnera tibi, Dómine, dicata sanctífica: et, intercedénte beáto Patre nostro Francísco, ab omni nos culpárum labe purífica. Per Dominum nostrum Jesum Christum, Filium tuum: qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum. Amen.

Santificai, Senhor, as oferendas a Vós dedicadas; e pela intercessão, de nosso Pai São Francisco, purificai-nos de toda a mancha das culpas. Por Nosso Senhor Jesus Cristo: que convosco vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém..

PRAEFATIO DE SANCTO FRANCISCO

Vere dignum et justum est, æquum et salutáre, nos tibi semper et ubíque grátias agere: Dómine sancte, Pater omnípotens, ætérne Deus: Qui venerandum Confessorem famulum tuum beatum Franciscum, tua Deus altissima bonitate et clementia, sanctorum tuorum meritis et virtutibus sublimasti, mentemque ipsius Sancti Spiritus operatione amor ille Seraphicus ardentissime incendit interius, suumque Corpus sacris Stigmatibus insignivit exterius signo Crucifixi Jesu Christi Domini nostri, per quem majestátem tuam laudant Angeli, adórant Dominatiónes, tremunt Potestátes. Coeli coelorúmque Virtútes ac beáta Séraphim sócia exsultatióne concélebrant. Cum quibus et nostras voces ut admitti jubeas, deprecámur, súpplici confessione dicéntes:

Verdadeiramente é digno e justo, razoável e salutar, ó Senhor santo, Pai onipotente, eterno Deus: que Vos demos graças, em toda a parte e sempre; a Vós, ó Deus, que por vossa altíssima bondade e clemência, sublimastes com as virtudes e méritos dos Santos, o venerando Confessor, vosso servo São Francisco; cuja alma, intimamente, por obra do Espírito Santo, aquele amor seráfico incendiou tão ardentemente; e cujo corpo, externamente, foi assinalado com os sagrados estigmas, pelo sinal do Crucificado Jesus Cristo nosso Senhor. Por quem os Anjos louvam a vossa majestade, as Dominações adoram, e tremem as Potestades; os céus e as Virtudes dos céus e os bem-aventurados Serafins celebram com exultação comunicativa. Pedimos, Vos digneis admitir entre eles também as nossas vozes, dizendo, em súplice confissão: Santo...

COMMUNIO

Rom 8, 18

Non sunt condignae passiones hujus temporis ad futuram gloriam, quae revelabitur in nobis.

Os sofrimentos do tempo presente não têm proporção com a glória futura que será manifestada em nós.

POSTCOMMUNIO

Orémus.

Ecclésiam tuam, quaesumus, Dómine, grátia coeléstis amplíficet: quam beáti Patris nostri Francísci Confessóris tui illumináre voluísti gloriósis méritis et exémplis.Per Dominum nostrum Jesum Christum, Filium tuum: qui tecum vivit et regnat in unitate Spiritus Sancti Deus, per omnia saecula saeculorum. Amen.

Oremos.
A graça celeste, Vos pedimos, Senhor, dilate a vossa Igreja; a qual quisestes iluminar, com os gloriosos méritos e exemplos de nosso Pai São Francisco, vosso Confessor. Por Nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho: que convosco vive e reina pelos séculos dos séculos.  Amém.




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